sexta-feira, 11 de setembro de 2015

DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO ARQUILAU DE CASTRO MELO

DISCURSO ACADEMIA ACREANA DE LETRAS
Senhora Presidente
Senhores Acadêmicos
Autoridades.
Senhoras e Senhores

     A Academia Acreana de Letras, através de eleição presidida, na época, pelo confrade Clodomir Monteiro, a quem presto minhas homenagens, houve por bem distinguir-me com a cadeira de nº. 36 que tem como patrono Nelson Lemos Bastos e como fundador o acreaníssimo e saudoso Omar Sabino de Paula. Daí decorre a incumbência de recordá-los nesta cerimônia, tarefa que exerço com muito gosto.
    A professora doutora e confreira Maria José Bezerra, em seu trabalho intitulado “JORNAL O ACRE NOS CONTEXTOS DOS ANOS 30 E 40, DO SÉCULO XX”, dá conta que Nelson Lemos Bastos, era oficial da Marinha e atuava também como jornalista redator do Correio Marítimo, órgão classista da Marinha Mercante Nacional e do Jornal “O Acre”, entre outros”.
   Já o fundador e meu antecessor na cadeira de número 36, foi Omar Sabino de Paula, que nasceu em Vila Castelo, hoje município Manoel Urbano. O Dr. Omar, como era conhecido, foi um intelectual de seu tempo, transitando pelos três poderes do Estado, sempre exercendo cargos relevantes.  Foi vice-governador na gestão Jorge Kalume (1967-1971); Deputado Federal; Deputado Estadual constituinte de 1963 e, nessa condição, fez consignar um artigo na nossa primeira Constituição estabelecendo que “A lei disporá sobre a criação e instalação da Universidade do Estado do Acre”. Era a semente da futura Universidade Federal do Acre. Bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito da UFAC, foi seu professor em diversas matérias  e, depois, foi Reitor da própria UFAC.
     Foi Promotor Público de Xapuri. Nomeado para o cargo de Juiz de Direito de Feijó, não tomou posse porque veio a ser nomeado, em seguida, para o cargo de Vice-Governador. Do Trabalho intitulado “UM DOS PIONEIROS DA CRIAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE”, também, da Professora e confreira Maria José Bezerra, colho o seguinte lanço: “A atividade preferida pelo Dr. Omar Sabino sempre foi o magistério. No curso de sua vida demonstrou preocupações quanto a elevação nível cultural dos acreanos, sendo desde o tempo de estudante secundarista um dos organizadores dos movimentos dos estudantes daquela época, para a fundação de uma Universidade, o que possibilitaria aos jovens da região ter acesso à formação em nível superior e, desta forma, contribuírem para o desenvolvimento sociocultural da terra e da gente do Acre”.
Senhoras e Senhores:
Penso, sinceramente, que fui muito ousado mesmo a inscrever-me para uma cadeira desta augusta Academia, eu que sou autor de pequenos e modestos trabalhos, aqui cito dois deles: um cerca da expedição de Euclides da Cunha ao Acre, em 1904, e outro sobre os autores da letra e da música do Hino do Acre, respectivamente Francisco Mangabeira e Mozart Donizetti. Euclides da Cunha já famoso com a colossal obra “Os Sertões” e veio ao Acre em missão oficial do Governo Brasileiro para demarcar a fronteira brasileiro-peruana e passou oito meses navegando pelo Rio Purus e seus afluentes. Escreveu diversos artigos, ensaios e crônicas sobre a Amazônia e produziu frases antológicas e marcantes como por exemplo: “O homem aqui ainda é um intruso, chegou sem ser esperado quando a natureza, ainda ornamentava seu vasto salão”; “O seringueiro realiza uma tremenda anomalia: é o homem que trabalha para escravizar-se”. “ A estrada de seringa é como um polvo a devorar o seringueiro.” Euclides prometia escrever um livro sobre sua viagem, cujo título era bem sugestivo “Amazônia, um Paraíso Perdido”.  Dizia aos amigos que esse seria seu segundo “livro vingador” e que seria ainda melhor do que o avassalador  “Os  Sertões”. Dizia que os Sertões era a obra da juventude enquanto o Paraíso Perdido seria a obra da maturidade.  De certa forma somos órfãos desse livro de Euclides, eis que o escritor veio a ser assassinado no Rio de janeiro, pouco tempo depois de deixar o Acre.
No outro trabalho chamado de “Por Trás da Letra e da Música do Hino Acreano” quis fazer uma homenagem ao poeta Francisco Mangabeira, autor da letra do nosso hino e também patrono desta Academia e a ao maestro Mozart Donizetti que veio a  musicar o hino, resultando num trabalho harmonioso e perfeito, embora ambos não tenham se conhecido. Francisco Mangabeira foi o médico da Revolução Acreana que veio a falecer de malária, quando findou a revolta vitoriosa e já voltava para sua terra natal, a Bahia. Já o maestro Mozart Donizetti era um talentoso músico cearense que viveu em Tarauacá até os anos 30. Em parceria com o Promotor de Justiça e intelectual José Potyguara produziram e encenaram várias peças teatrais naquela cidade.
 Afora esses dois pequenos trabalhos temos produzido algumas crônicas, do cotidiano de nosso povo. As crônicas são tidas por muitos um gênero menor da literatura. Essa, contudo, não era a opinião do maior escritor brasileiro, fundador da Academia Brasileira de Letras, Machado de Assis. Machado dizia que: “A crônica fareja todas as coisas miúdas e grandes, e põe tudo em pratos limpos.”
A tarefa de escrever é espinhosa, mesmo para os grandes escritores. Graciliano Ramos, numa extraordinária  e feliz comparação entre os trabalhos de um escritor e de uma lavadeira, disse em entrevista certa vez:
“Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. 
Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. 

Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
Nesse - digo eu - momento de reconstrução da Academia há muito o que fazer mas um desafio que me parece urgente que é o de fomentar a leitura especialmente entre os jovens, criando e mantendo círculos de leituras.
Em pesquisa recentemente realizada pelo IBOPE, Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, constatou-se que o brasileiro lê, apenas em média, 4,7 livros por ano. Quando indagada sobre o que prefere fazer em seu tempo livre, a maioria da população opta pela televisão (77%) - a leitura foi a quinta opção citada pelos entrevistados, atrás de hábitos como ouvir música e rádio e descansar.
O Sul é a região onde mais se lê (média de 5,5 livros por pessoa/ano). A região Norte é aonde menos se lê, apenas 3,9 livros por ano. Convenhamos, é muito pouco. Urge, pois, que a Academia assuma uma campanha de incentivo a leitura contribuindo para a formação de melhores cidadãos e quiçá de novos escritores.

Para terminar, senhora presidente, preciso registrar a minha alegria de estar tomando posse neste espaço que para mim tem um significado especial. Aqui advoguei, me fiz Juiz de Direito, Desembargador e Presidente do Tribunal e dei inicio as obras para que a velha sede do TJ viesse a se transformar num Centro de Cultura que, com muito orgulho recebe e abraça a Academia Acreana de letras, tão bem representada nesta noite. Muito obrigado. 

DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO RENÃ LEITE PONTES

DISCURSO DE POSSE DO ACADÊMICO RENÃ LEITE PONTES, NO SODALÍCIO DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS, EM SUBISTITUIÇÃO A JOSÉ HIGINO DE SOUZA FILHO, CADEIRA 33
                                                           SAUDAÇÃO


Minha Presidente, Profa. Dra. Luísa Galvão Lessa Karlberg; atriz Carla Cristina, Presidente da FEM, representando o Governador Tião Viana; Márcio  Batista, Vice - Prefeito de Rio Branco, representando o Prefeito Marcos Alexandre; queridos Confrades que comigo hoje tomam posse; minhas senhoras; meus senhores; meus familiares.

 Nesta noite prometedora de 24 de julho, dia de Santa Cristina, data natalícia de Simón Bolívar (o Cadeira de número 33 do Sodalício da Academia Acreana de Letras, anteriormente ocupada pelo advogado, empresário, Escritor e Acadêmico José Higino de Souza Filho, que ocupou-a e defendeu-a, no seu tempo, com o brilho peculiar dos maiores e melhores.
Libertador das Américas - 1830); dia da abolição da escravatura no Chile (1823) e dia da descoberta da cidade inca de Machu Picchu, no Peru, assumo a titularidade da
Ocupo-a muito honrado, ladeado pelas Confreiras Margareth Edul Prado Lópes (cadeira 32) e Luísa Galvão Lessa Karlberg (cadeira 34): ambas professoras, iguais a mim; ambas doutoras; ambas tarauacaenses e, portanto, conterrâneas dos meus avós maternos, aqui representados por minha magnânima mãe, a Profa. Raimunda Nonata Leite, que neste ato também representa o município do Quinari - a cidade onde nasci.
Lendo, pesquisando e entrevistando pessoas a respeito da história de vida do meu antecessor, a quem tenho a honrosa obrigação de prestar esta homenagem, descobri a linda história de vida de um bom amigo, acadêmico e cidadão, cuja fortuna imortal, moral e imaterial continuará influindo e beneficiando nossa história, Cultura e economia por muito tempo.
Por herdade à Academia e às letras acreanas, José Higino de Sousa filho deixou várias obras publicadas, que aqui destaco uma: “A Luta Contra os Astros” (1993). Trata-se de um singular romance autobiográfico de 370 páginas, que, segundo José Chalub Leite, é a história real da vida de uma pequena cidade do ex- território do Acre, a ex-Vila Seabra, hoje Município de Tarauacá, que em 1877 se chamava Porto de Lenha ou Foz do Murú.
O romance supramencionado é um tesouro literário que trata do cotidiano ancestral de uma sociedade interiorana à margem da vida, subjugada pela força dos rios Tarauacá e Murú, oprimida também pela floresta sufocante, e, não menos sujeita aos humores de homens capazes de impor aos semelhantes um destino de fatalismo congênito e uma pasmaceira telúrica quase sempre intransponível.
Para a indústria e comércio acreano meu Antecessor deixou a lição de pioneirismo quando fez a primeira torrefação de café em Rio Branco, ele foi o pioneiro da indústria, aproveitando o legado do pai dele, o pecuarista José Higino de Sousa, que segundo consta, vendia leite e manteiga em Tarauacá e, depois, para os outros municípios, na época em que os homens poderosos do estado viviam do extrativismo.
Higino filho era um homem de correspondência por cartas e de presentear com livros. Se formou em direito na primeira turma da UFAC, em 1974.
Foi ainda o fundador do SESI e SENAI no Estado do Acre, o qual esteve à frente por 17 anos, legando à instituição importante patrimônio e documentação estruturante. 
Vou ler aqui para finalizar um soneto alexandrino moderno, que adveio da minha lavra, pela leitura do importante romance acreano “A Luta Contras os astros”:

Omnia Vincit Labor
Renã Leite Pontes

Pedia da janela , ao pálio , em meio a janta,
para um astro levar-me a um bem mais lisonjeiro,
porque ouvi dizer: - no flagra verdadeiro
de um astro quando cai, um sonho se levanta.

Mais tarde eu vigiava com ventura tanta,
em banco florestal, sentado no terreiro,
mas meu amor ao mundo era tão verdadeiro,
que sempre me fugia a fala da garganta.

E quando eu retornava para a velha cama,
sofrendo os sofrimentos próprios de quem ama,
justificava a mim: - ainda sou menino!

Em um “piscar de olhos”, estou na cidade,
com astros  me crivando de adversidade.
quiçá somente à força doma-se o destino.

Se hoje estou aqui é porque fiz aquilo que muitas pessoas, em condições melhores que as minhas, não fizeram e, mais por isto, tornei-me o primeiro cidadão quinariense a ocupar uma cadeira no Sodalício da Academia Acreana de Letras.

Muito Obrigado!

DISCURSO DA PRESIDENTE DA AAL NA POSSE DE NOVOS MEMBROS DO SODALÍCIO

AUTORIDADES PRESENTES OU AQUI REPRESENTADAS, MEMBROS DO  SODALÍCIO, SENHORAS E SENHORES,
Luisa Galvão Lessa Karlberg
Presidente da Academia Acreana de Letras - AAL

Apresento-vos, em nome do sodalício da Academia Acreana de Letras, palavras de agradecimento, alegria e  gratidão. Elas se estendem a todos os convidados presentes e àqueles que estão aqui em pensamento. Cumprimento as autoridades, os familiares e amigos que aqui se juntam a nós, alegrando, com suas presenças, esta bela noite. Agradeço ao Colegiado Acadêmico da nossa AAL, pela calorosa acolhida que dão aos novos membros do sodalício.À Comissão de Posse da AAL pelo primor de organização da solenidade.
Digo-vos que a Academia Acreana de Letras é uma instituição de literatos, historiadores, professores, linguistas, médicos, advogados, jornalistas, antropólogos, pedagogos, juristas, teólogos, artistas. Tem por objetivo principal  cultivar, estimular o culto ao idioma pátrio, a produção, a divulgação literária, a pesquisa científica e social  no Acre. Importante, para nós, é que desse diversificado colegiado tenhamos produções literárias que deem voz ao Estado do Acre, a exemplo de outras unidades da Federação. O culto ao idioma pátrio é dever de todos, porque escrever  é doar ao mundo aquilo que existe dentro do nosso mundo.
O Acre, berço de uma história ímpar, no Brasil, destaca-se, diante do mundo, por sua história inigualável. Ainda, por sua posição geográfica, estando ao lado de países andinos e, também,  por situar-se no centro-oeste  da Amazônia, lugar habitado por gente hospitaleira, ordeira, gentil. E, nesse cenário, a Academia Acreana de Letras, através dos seus confrades, vem prestando relevante papel junto à sociedade, na contribuição lítero-cultural.
Hoje, novos acadêmicos são empossados:
---- Renã Leite Pontes, que tem por antecessor José Higino de Sousa Filho, homem de integridade ímpar, primoroso nas letras de seus belos romances. E, nesse cadeira senta Renã, um homem de caráter ilibado, profissional brilhante, professor, poeta internacional, sonetista grandioso, amigo dos amigos, esposo exemplar tal qual o Higino. Esta casa Vos acolhe com a alegria do presente e a saudade do passado.
---- Arquilau de Castro Melo, tem por antecessor Omar Sabino de Paula, um jurista renomado que tantos feitos legou ao Acre. Em sua cadeira chega Arquilau de Castro Melo --Desembargador aposentado, advogado, estudioso da literatura regional -- com a mesma precaução, cuidado, zelo, compromisso com o Acre. Estudioso não apenas do Direito, senão também da Literatura, onde encontrou em Euclides da Cunha a vocação para desvendar o Eldorado brasileiro que se acreditava achar escondido no coração da floresta amazônica. Este foi o sonho alimentado por muitos exploradores e cientistas europeus, do inicio do século XX. E foi nesse universo que deu-se o encontre de Arquilau com Euclides da Cunha, que o trouxe, nesta noite, à AAL.
---- Reginâmio Bonifácio de Lima, que tem por antecessor Manoel Mesquita. Reginâmio é amante das Letras, da Teologia, da História. Ciências ligadas à vida, à linguagem. Também possui similaridade com o antecessor que tanto amava a Academia, a história regional. Reginâmio convive com os infantos, e neles encontra a pureza, muitas, vezes, perdida nos adultos. Mas acredita, assim como nós do sodalício, que ora abraça, que a verdadeira literatura purifica almas, igualmente a ciência, como Pesquisador do CNPq e Professor da UFAC.
---- Gilberto Braga de Mello, que tem por antecessor Francisco Thaumaturgo, homem que tanto fez pelo Acre, pela Cultura, pela política. Gilberto, um advogado e jornalista, debruçado em marketing e propaganda, vai tecendo sua literatura em meio à política, preocupado com o social, a região, as pessoas. Não são caminhos opostos, eles se confluem no observar os cenários para modificá-los, sempre em prol do bem comum, do sonho de toda uma sociedade.Aqui, Gilberto, na sua arte, realiza uma procura apaixonada, tanto na literatura quanto na política. E, em ambas, a comunicação, o discurso, o texto, é que realiza os propósitos e sonhos, para que não fiquemos “de bubuia”, na vida, como descreve essa expressão, em seu dicionário.
Senhoras e Senhores, Acadêmicos, a AAL,  como ícone  maior  da Língua e Literatura de expressão portuguesa no Estado do Acre, arcando com o ônus do protelamento de inserir os nomes de Vossas Excelências em seu  Quadro  de  Acadêmicos,(foram eleitos há mais de 1 ano)  cumpre,  hoje,  o nobre  dever  de justiça,  de  incluí-los  como  Membros  Titulares e imortais do  nosso  sodalício, enaltecendo-os como quatro próceres da Cultura e Literatura Acreana.
Então, senhoras e senhores, estimados confrades e confreiras, é meu dever sagrado, nesta noite, evocar os antecessores, buscar cumplicidade com as experiências passadas, com as histórias humanas que se foram, com as existências que lutaram e superaram suas contingências. Celebra-se, portanto, nesta noite, a feliz coincidência de contar com antecessores que trilharam caminhos tão semelhantes aos que os novos confrades irão percorrer. E, sob a inspiração desses antecessores, com o espírito pacificado e a vaidade sob intenso controle, desejamos que abracem este momento de Vossas vidas, sem perder de vista o legado que terão que deixar na bagagem que trazem hoje e naquela que irão consolidar junto ao sodalício. O nosso desafio social, cultural e linguístico é imenso.
Entrar numa Academia de Letras não torna ninguém melhor escritor, não transforma nulidades em criadores, medíocres em gênios. Mesmo porque a humanidade é gregária e associativa, as Academias de Letras reúnem criaturas que desejam superar suas próprias limitações, pessoas inconformadas consigo mesmas, com as injustiças do existir, com a própria finitude da vida. E porque as mais nobres ações humanas são voltadas para a defesa da vida, esses que se associam, na Academia de Letra, escolheram as palavras, a criação literária, como arma para enfrentar a brevidade da vida. Ars longa, vita brevis, disseram os antigos. A arte perdura, a vida é curta.
Assim, Renã, Arquilau, Reginâmio e Gilberto nós, da Academia,  nos identificamos por  afinidades culturais, linguísticas e literárias. Comungamos dos mesmos ideais: olhar um Acre sempre altaneiro, igualmente a bandeira hasteada no pavilhão do Estado que se fez brasileiro.
Sentimos, que este Sodalício, na noite de hoje, está feliz. Sentimo-nos honrados, orgulhosos e cativados  por Vossas Excelências, pela bagagem que trazem convosco para esta Casa de saber. Todavia, estamos cientes dos desafios que este século XXI nos impõe. A verdade é que vivemos na  época  da  velocidade, das gigantes aeronaves, da Internet, do WhatsApp, do Tuitter, mas  nos  sentimos  enclausurados no tempo da ciência revolucionária, da tecnologia que fecha e abre mundos.  A  máquina,  que  produz  abundância,  tem-nos deixado  em  penúria.  Nossos  conhecimentos  fizeram-nos  céticos;  a nossa  inteligência, emperdenidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Dizemos uma coisa e fazemos outra. Beijamos alguém que dizemos amigo e o apedrejamos quando nos dá às costas. Que mundo é esse que tanto oferece e tanto nos tira? Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas  virtudes,  a  vida  será  de  violência  e  tudo  será  perdido.
A  Internet fez do mundo uma aldeia, assim como a Televisão. Mas pensando bem, a  própria natureza desses inventos só faz sentido se o mundo for melhor. E, para isso, as pessoas precisam ser melhores. Tudo isso é  um apelo  eloquente  à  bondade  do  ser humano...  um  apelo  à  fraternidade ... ao companheirismo... à união  de  todos nós em prol do bem comum. E um desses bens maiores reside no mundo das letras, da literatura, que é a expressão da sociedade, assim como a palavra é a expressão do ser humano. E para viver bem e feliz devemos ser terrivelmente sinceros. No entanto, vive-se um paradoxo. É incrível, quando se atinge a verdade passamos a fazer ficção, que é  a invenção ou criação. Devemos ter cuidado, atenção com as palavras, armas de constroem, mas que também destroem o mundo, a vida, as pessoas.
Mas de tudo que digo, o mundo da literatura, das letras, é fantástico, nos permite navegar por muitos mares. A esse respeito, escutemos a voz de grandes literatos:
Mário Quintana  - Esses que puxam conversa sobre se chove ou não chove - não poderão ir para o Céu! Lá faz sempre bom tempo."
Fernando Pessoa - "A literatura, como toda arte, é uma confissão de que a vida não basta".

Machado de Assis – “Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem."
Goethe - O declínio da literatura indica o declínio de uma nação”.
Salamah Mussa - Não é a beleza mas sim a humanidade o objetivo da literatura”.
Émile Zola - “Os governos suspeitam da literatura porque é uma força que lhes escapa”.
Max Frisch – “A literatura pode ser uma boa terapia pessoal, uma espécie de psicanálise na qual não se paga um psicanalista”.
Roland Barthes - “A literatura não permite caminhar, mas permite respirar”.
Cesare Pavese - “A literatura é uma defesa contra as ofensas da vida”.
Adrian Frutiger - As páginas mais belas de um texto são aquelas em que todas as letras compõe uma unidade em perfeita harmonia”.
Perboyre Sampaio - “Quando um texto nasce, já cumpriu sua principal função: harmonizar a alma de quem o criou”.
Saunders Lewis - Está claro que o "homem comum" não pode entender o extraordinário, exceto na plenitude do tempo; e o extraordinário é a essência da literatura".
Fernando Pessoa - "A literatura torna o mundo real, dando-lhe forma e permanência".
Caríssimos confrades, tendo eu a cultura e o saber como causa acadêmica e projeto de vida, não poderia saudá-los se não conhecesse a escrita. Esta questão do que é a sabedoria, e da dificuldade de compreender as informações que se tem, é a grande agonia do tempo atual, da sociedade da informação, em que faz chover, como tempestade, e inunda as pessoas de tanta informação, assim como a enchente que invade os rios amazônicos e fazem as nossa alagações.
Por fim, eu não vou mais cansá-los, senhoras e senhores, confrades e confreiras. Percorri este caminho para enaltecer  a chegada  destes ilustres pares à Academia Acreana de Letras. Mas o percorri, sobretudo, porque foi a escrita que nos fez, embora em ofícios distantes, comungar um mesmo ideal: o idioma pátrio, a cultura, a literatura. É a escrita que promove o grande encontro desta noite.
Vindes, Renã, Arquilau, Gilberto, Reginâmio, integrar-vos ao seleto pugilo – com a só exceção desta que vos fala --- de gente distinguida, condutora e defensora dos ideais mais nobres, eis que promanam do culto à sagrada Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.
Labor  omnia  vincit  improbus... O  trabalho  perseverante  vence tudo.

Muito OBRIGADA e tenham todos uma Boa Noite!

DISCURSO DO ACADÊMICO MAURO D'ÁVILA MODESTO DA COSTA -- SAUDAÇÃO DO SODALÍCIO À DIRETORIA "TECIDO DA CULTURA ACREANA"

Discurso de posse da nova diretoria da AAL -- 2015-2017
Mauro Modesto
19/06/2015

O patrimônio histórico, econômico, social e cultural de um país, de um estado, são bens que pertencem à coletividade. E a cultura, senhores intelectuais, é um conjunto de códigos e padrões que regulam a ação humana e que se manifestam em todos os aspectos da vida.
A cultura são características humanas que não são inatas. Ela se cria e se aprimora através da comunicação e cooperação entre os indivíduos em sociedade e está sempre relacionada à produção e transmissão de conhecimentos, da intelectualidade artística.
A cultura é o processo de desenvolvimento social de um grupo, de um povo, de uma nação, que resulta do aprimoramento de seus valores, das suas instituições.A cultura, minhas senhoras e senhores, deve ser a elegância, o refinamento, o esmero do bom gosto, do mais requintado dos hábitos e costumes.
Há 50 anos, quando me propus a enveredar-me pelo caminho da cultura, sabia que seria uma tarefa reservada apenas para os fortes e corajosos e foi aí, que olhei para dentro de mim e pensei com os meus botões: Serei tudo ou não serei nada.  Mesmo tendo essa certeza, preferi trilhar o caminho que iria enriquecer o patrimônio histórico e cultural do meu estado e quiçá do meu país.
A cultura não é um bem que se pode comprar. Ter riqueza, bem-estar não é o mesmo que possuir cultura. Ser rico não traduz ter conhecimento.A cultura nos leva à liberdade, se não, nos mostra o caminho do saber agir, de independência, da confiança. A cultura nos dá a sagrada condição de homens livres.
“Não anda mais rápido aquele que caminha açodado, acelerado porque ele vai ser obrigado a pecar pela pressa. O apressado provavelmente irá se precipitar”.  Caminhar é necessário, mas caminhar com disciplina, de modo absoluto. Nunca será tarde para reter na memória que somos aptos a caminhar com decisão acertada, com total segurança.
A franqueza, os bons princípios, a ética, a virtude andam um pouco afastados, mas não tão distantes que não possamos obtê-los de volta ao nosso convívio. E a cultura, senhores acadêmicos, é o caminho mais curto. A cultura é a estrada mais fértil.
Senhores, a grande crise da humanidade é a falta de educação e de cultura. A educação é o cabedal científico na obtenção da instrução, do conhecimento. É o processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral de uma sociedade. É a prática dos usos de sociedade: civilidade, delicadeza, polidez e cortesia.
Já a cultura torna o homem liberto, livre. Livre da má influência. A cultura é a emancipação do homem. A cultura é o melhor instrumento que o homem possui para ser menos oprimido, diminuído moralmente.
Jorge da Cunha Lima, afirma: “A cultura não lida apenas com as artes e universidades, mas com todos os valores da sociedade humana, que um governo democrático incumbe respeitar e vitalizar”.
Respeitáveis senhoras e meus senhores, sei que vivo entre as nuvens, talvez por isso vivo repetindo para mim mesmo que sou antes de tudo um acreano, um plantador de sementes da poesia, um professor e um sonhador e por favor, deixem-me sonhar.
Para encerrar, digo-lhes: Caminhando com a educação e com a cultura, chegaremos bem perto de Oscar Wilde, Dostoievski, de Platão, Sócrates, Diógenes, Pascal, Emerson, Aristóteles, Descartes, Montesquieu, Einstein. Victor Hugo, Confúcio, Cícero, Sêneca, Voltaire, Sartre, Gandhi, Byron, Tolstoi, Ésquilo, Benjamin Franklin, Heráclito, Milton, Leonardo da Vinci, Picasso, Lincoln, Rousseau e tantos outros.
Viva a cultura!!!

E bons dias para a nossa presidente Luisa Galvão Lessa Karlberg.

DISCURSO POSSE DA PRESIDENTE ELEITA LUISA KARLBERG --19 de junho de 2015

DISCURSO DE POSSE DA PROF.ª DR.ª LUISA GALVÃO LESSA NA PRESIDÊNCIA DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS -- BIÊNIO 2015-2017
                                
Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg

Recebo, com honra e humildade, a Presidência da Academia Acreana de Letras. Eu, nascida no Igarapé Humaitá, Seringal São Luís – situado às cabeceiras do Rio Muru, distante de  Tarauacá  oito dias de barco -- nunca imaginei chegar a esta instituição. Agradeço aos confrades que aqui me conduziram, por meio de uma eleição ampla, irrestrita e democrática, da Diretoria intitulada “TECIDO DA CULTURA ACREANA”.
E, nesta breve mensagem eu me curvo diante deste sodalício que me elegeu à Presidência da mais elevada instituição de cultura do Acre: a Academia Acreana de Letras. Quem conhece o berço da  imensa Selva Amazônica sabe de onde vim e dos caminhos que percorri na vida. Muitos sabem como se faz para se alcançar os frutos no alto das árvores e vencer os medos na misteriosa floresta que embala  as nossas vidas. Aprendi, desde cedo, a olhar acima da copa das árvores e saber que havia um mundo para conquistar e o caminho era o da educação, das Letras. E nessa área fui aluna de graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado. Levei a vida inteira a estudar, desde os 5 anos de idade.
Sou uma cabocla, mesclada com o sangue português e holandês, mas me vejo, hoje, tomada de emoção. Não de tristeza, mas de intensa gratidão aos nobres confrades que a vida me presenteou como bons e fraternos amigos. Os senhores sabem, assim como eu, que nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Esse sentimento sempre me moveu. A vida exige de nós - o tempo todo - uma grande capacidade de adaptação, mudanças, enfrentamentos, superação. E aqueles que temem a mudança nunca vão adiante, levam uma vida estática por medo de novos desafios decorrentes da própria existência.  E os fracos, somente os fracos, vivem com a cabeça. Receosos, eles criam em torno deles uma segurança baseada na lógica. Com medo, fecham todas as janelas e portas - com teologia, conceitos, palavras, teorias - e do lado de dentro dessas portas e janelas fechadas, eles se escondem. Eu não me escondo, não tenho a alma subalimentada de sonhos, sempre fui à luta, ‘caí no mundo’, como se diz popularmente. E foi nele que aprendi as lições mais sublimes, que redimem meus pecados e lavam a minh’alma feminina, forte e livre para ir adiante, com dignidade.
Sempre procurei superar os desafios desde muito jovem. Sai de casa aos seis anos de idade para um colégio alemão. Agarrava-me às pernas de meu pai para não ir para longe e ele me dizia: “filha, é preciso ir, estudar é a saída para quem não possui riqueza material”. Foi aí que comecei a aprender a transformar sentimentos menos elevados em prol da grandeza da vida, da escola, do conhecimento. Compreendi, desde muito jovem, que o caminho do coração é o caminho da coragem. Deixar o passado para trás e fazer o futuro SER. Também aprendi que a vida é perigosa, mas somente os covardes podem evitar o perigo, mas aí já estão mortos. Somente quem nasceu ou viveu no seio da Floresta Amazônica, como eu -- dentre tantos outros aqui presentes – sabe o significado dessa palavra CORAGEM. Ela vem da raiz cor, que significa coração. Portanto, ser corajoso significa viver com o coração.
E, agora, para enxugar o meu pranto, neste momento de intensa emoção – quando vejo o filme de muitas histórias da minha vida – eu digo o seguinte: - o Amor e a Ternura são sentimentos revolucionários, eles sempre deram norte à minha vida, assim como o saber, a cultura, os meus pais, minhas duas filhas, meus dois netos, os amigos, minha sublime profissão de professora, pesquisadora, educadora. Desta última, fiz meus votos de fé. Tem dado certo. E o melhor de tudo é que embora não estejamos diante do mesmo espelho, estamos nos olhando sempre.  Como diz Guimarães Rosas “o mais importante e bonito do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando”. Afinam ou desafinam. E  tudo indica que vamos afinar ainda mais a canção acreana e porque não dizer brasileira, com essa Diretoria “TECIDO DA CULTURA ACREANA”.
Aqui, fiz breve relato da mulher que hoje se coloca diante da sociedade acreana como Presidente da Academia Acreana de Letras. Nesse cargo dedicarei o melhor dos esforços para cumprir os objetivos da AAL diante da sociedade regional e brasileira. Sou do mundo das Letras, e sei que produzir literatura é algo difícil para quem vive mergulhada no mundo da ciência. Mas eu já compreendi que a literatura antecipa a existência. Não a copia, amolda-a aos seus desígnios, como está fazendo agora. Pois é a literatura uma arte que nos defende contra as ofensas da vida.
Esta Casa, que a partir de agora presido, é uma Academia. A importância das Academias de Letras flui do liame profundo que existe entre estes sodalícios e a cultura. Aqui, no Acre, sua importância salta aos olhos mais atentos de quem olha a cultura como um motor que traduz a vida em sociedade. Isso porque Cultura significa cultivar, do latim colere. Genericamente, a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano.
E, nesse contexto cultural, aqui no Acre, a Academia Acreana de Letras é, possivelmente, a maior referência no mundo cultural do Estado, uma vez que seus membros, chamados “imortais”, traduzem o lastro cultural do povo. Sendo assim, uma Academia tem o condão de desabrochar aspirações, e de estimular o desenvolvimento da literatura, além de premiar os méritos dos seus mais destacados cultores das letras. Deve penetrar nas regiões do Estado e fazer florescer os gênios dos vales do rio Abunã, Acre, Purus, Juruá. Neste último faço reverência ao meu berço natal: Tarauacá.
Então, falar em Academia é pensar em livros, penetrar na noite dos tempos para encontrar auroras boreais. E, com esta intenção, tateando no desconhecido,  pouco a pouco,  descobrem-se os indícios primeiros da arte de pensar. O fluir da vida vai acumulando experiência e sabedoria no delta da maturidade, que passa a ser um bem comum, usufruído por todas as gerações e idades, constituindo-se, desse modo, em patrimônio da própria sociedade.
Na Academia Acreana de Letras, cada geração deixa um legado: Amanajós de Araújo, Paulo Bentes, Omar Sabino de Paula, Mauro Modesto e Clodomir Monteiro da Silva. Processo vagaroso, a exigir tempo para tomar corpo e se mostrar. Assemelha-se à formação do universo que, em movimento rotatório, vai condensando energia, gás e luz, até assumir a fosforescência das galáxias, em expansão contínua, onde brilha a centelha da criação.
Por isso tudo, entendo que uma Academia deve espelhar a alma, retratar o espírito, expressar a gênese e as potencialidades de um povo. Guardiã zelosa da língua, o maior patrimônio nacional, a Academia Acreana de Letras deve corrigir desvios, depurar o idioma e preservar  sua integridade expressional. Nada distingue mais um povo do outro que sua literatura. No Acre, cabe à AAL resguardar as fontes puras de onde brotam o sentir e o externar das gentes, trabalhá-las e difundi-las para criar a literatura própria, imprescindível de um país enquanto nação. Será nesta Academia que deverão se organizar as trilhas literárias da região e do Estado. Nós, deste sodalício, confreiras e confrades, somos os herdeiros do esplendor do conhecimento humano. Vamos assumir nosso papel, a sociedade nos convida a este dever.
Neste pretendido mandato, a AAL deverá estar presente nas mais diversas discussões sociais, políticas e de caráter comunitário, devendo ser representada em vários conselhos, em nível federal, estadual, municipal. Também deverá promover, periodicamente, debates sobre questões atuais ou problemas regionais, assim como incentivar a produção literária e cultural no Estado do Acre.
Deverá, esta Academia, encadear discussões de natureza diversa:
Ø O idioma pátrio e a literatura de expressão regional;
Ø  Trabalhar as questões culturais por bacias hidrográficas, com a participação efetiva dos acadêmicos, para descortinar  o potencial humano dessas bacias; o potencial literário; o potencial histórico; o potencial ecológico; o potencial econômico, enfim, tudo aquilo que espelhar a cultura regional.
Ø Deverá a Academia otimizar políticas, junto ao Governo do Acre, para organizar antologias dos movimentos literários, para dar a conhecer ao Acre e ao país os monumentos de expressão  acreana, bem como:
Ø Incentivar e promover encontros culturais para sedimentar, sempre, a produção literária;
Ø Estimular os Acadêmicos para profícua atuação junto à sociedade, no sentido de promover oficinas de:
· textos;
· crônicas;
· Poesia;
· Gêneros Literários.
Ø Deverá a AAL realizar encontros de confraternização no meio acadêmico, não somente para festejar a arte do encontro, mas também para conhecer as produções dos confrades e confreiras, no sentido de confeccionar Antologias e discutir estratégias para divulgação das produções dos acadêmicos.
Ø Deverá fazer Concursos literários para incentivar novos talentos. Criar os programas "A Escola vai à Academia e a Academia vai à escola", para que os estudantes conheçam os acadêmicos escritores, cronistas, poetas, historiadores, juristas, literatos, linguistas e demais profissionais.
Essas propostas reúnem um pedaço do grande “TECIDO DA CULTURA ACREANA” que iremos tecer, de forma harmônica e compartilhada, sodalício, entidades, governos e sociedade organizada.
Essas propostas justificam o título da Diretoria” TECIDO DA CULTURA ACREANA” e de todo sodalício. É como pensa Max Weber, que o ser humano é um animal amarrado em teias de significação que ele mesmo teceu. O estudo da cultura não deve ser experimental à procura de leis, mas interpretativo, à procura do significado (Geertz, 1989, p. 15).  Assim, como tecedor da cultura, o sujeito caracteriza-se  pela  atividade;  é  (re)criador/construtor  da estrutura  teia  que  o  prende.  Está-se  diante  da própria ideia de complexus, isto é, o que é tecido em conjunto, como diz  Morin, (2001, p. 20).  Assim, ao tecer a cultura (teia),  o  sujeito  é  tecido  em  conjunto  (tece-a ao tempo em que é tecido nela).
De tudo que aqui  falo, reflito, manifesto, digo aos senhores, senhoras, ao sodalício da AAL, que poderão apertar minhas mãos e sentir que estou afinada com a arte, a cultura, a vida e o humanismo. E que deixaremos, nessa geração de imortais, imenso legado cultural e intelectual como lição àqueles que chegam depois.
Conclui-se com a célebre frase de Johan Kennedy: “A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão, com certeza, perder o futuro”. Iremos trabalhar para dignificar a Academia Acreana de Letras, aproximá-la dos escritores, poetas, cientistas e a comunidade do Acre e do mundo. Aí, então, como diz o hino acreano:

(...) ergueremos então destas zonas
Um tal canto vibrante e viril
Que será como a voz do Amazonas
Ecoando por todo o Brasil


MUITO OBRIGADA!

CHÁ DAS LETRAS -- MÊS DE SETEMBRO DE 2015

IMAGENS DO CHÁ DAS LETRAS --- MÊS DE SETEMBRO DE 2015











sexta-feira, 4 de setembro de 2015

CHÁ DAS LETRAS - MÊS DE SETEMBRO, "UM ENCONTRO COM CLARICE LISPECTOR", POR FÁTIMA ALMEIDA


ACADEMIA ACREANA DE LETRAS NUM ENCONTRO COM CLARICE LISPECTOR

ACADEMIA ACREANA DE LETRAS
CHÁ DAS LETRAS – setembro 2015

Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho. [...] O que verdadeiramente somos é aquilo que o impossível cria em nós.

Clarice Lispector
Por
Luísa Karlberg

1 – Clarice: vida e obra

Premiada escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira — e declarava, quanto à sua brasilidade, ser pernambucana — autora de romances, contos e ensaios e considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, sendo considerada uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano.

Nasceu em uma família judaica da Rússia que perdeu sua renda com a Guerra Civil Russa e se viu obrigada a emigrar do país em decorrência da perseguição a judeus que estava sendo pregada então, resultando em diversos extermínios em massa. Chegou ao Brasil por volta dos dois anos de idade na cidade de Maceió, onde passou um breve período até a família mudar-se para o Recife, cidade onde cresceu e em que perdeu a mãe, e depois para o Rio de Janeiro, onde sua família estabilizou-se e seu pai morreu.

Estudou direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro, então conhecida como Universidade do Brasil, apesar de na época ter demonstrado mais interesse ao meio literário, no qual ingressou precocemente como tradutora e logo se consagrou como escritora, jornalista, contista e ensaísta, tornando-se uma das figuras mais influentes da literatura brasileira e do modernismo e sendo considerada uma das principais influências da nova geração de escritores brasileiros. É comparada pela crítica especializada com os principais autores do modernismo do século XX.

Conhecida desde a juventude por escrever e publicar seus textos, suas principais obras marcam cada período de sua carreira: Perto do coração selvagem, seu livro de estreia; Laços de família; A paixão segundo G.H.; A hora da estrela e Um sopro de vida, seus últimos livros publicados. Morreu em 1977.

2 - Para tudo e para todos

Influenciada por autores como Franz Kafka, James Joyce e Virginia Woolf, Clarice deixa transbordar seu intimismo visceral.

Para Joel, esse é um dos motivos que continua atraindo tantos leitores para seus livros. “A obra dela é aberta e multifacetada, permite plurais interpretações. O leitor que terá o papel de ouvir essa voz e socorrer-se. Ele que escolherá a jornada”, diz o autor sobre a temática que não se apaga com o passar do tempo.

Um grito sem resposta, uma escrita que se costura para dentro a fim de indagar as questões da condição humana, como o amor, o nascimento, a morte, o desejo.

Para Clarice, esse era o motivo de escrever. “São temas interessantes até hoje, mas o modo como ela trabalha esses temas nos contos e nos romances é que faz dela uma autora especial. Ela se incomoda com o gesto mais sutil e delicado do ser, o mínimo atrito, ela fotografa a ambiguidade ou ambivalência dos sentimentos como se precisássemos redimensionar nosso modo de ser.”

Para desvendar o que está “atrás de detrás do pensamento” – como disse a própria Clarice – foram escritos nove romances por ela, compilados em uma coletânea lançada recentemente pela Editora Rocco.

Organizada pelo jornalista, escritor e crítico literário José Castello, Clarice na Cabeceira – Romances faz uma síntese da obra em questão e do momento vivido por ela ao escrevê-la. A coletânea é continuação de Clarice na Cabeceira – Contos e Clarice na Cabeceira – Crônicas, em que diferentes personalidades apresentam os textos favoritos da autora.

Em meio à sua prosa poética, Clarice emerge como uma “ficcionista-poeta”, tal como Guimarães Rosa. São nossos dois grandes ficcionistas da modernidade. São ficcionistas-poetas. Por esse motivo, eles têm vida longa nas estantes das livrarias.

3 - Do Brasil para o mundo

De caráter único e universal, a escrita da autora ultrapassou os territórios brasileiros. Afinal, já dizia Guimarães Rosa que se lê Clarice para a vida, para viver. “Os textos de Clarice são importantes porque são vitais, têm a força das ondas do mar, das árvores, do fluxo das águas. Aliás, foi essa força vital que impressionou muitos críticos lá fora e faz dela uma autora de estilo único”, diz Joel ao revelar que ainda fica impressionado com seus textos, que possuem dimensão filosófica que atrai psicanalistas, críticos, filósofos e leitores comuns.

Dos estrangeiros apaixonados pela obra de Clarice, Benjamin Moser aparece como um amante incondicional. O norte-americano nascido em Houston encantou-se por sua escrita já na primeira página de A Hora da Estrela, durante um curso de literatura brasileira da Brown University. Crítico e tradutor, ele aprendeu português e mergulhou na cultura brasileira do século 20 para tentar desvendar a obra enigmática da autora.

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

(...) uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi o apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.


Clarice Lispector