sexta-feira, 30 de maio de 2014

O POETA DO POVO

Gilberto Braga de Mello
Fui à Brasília pela primeira vez em 1980. O Brasil ainda vivia apeado pela ditadura militar. Metido até o pescoço no movimento estudantil, quis conhecer o Congresso Nacional e arriscar ver pessoalmente os grandes líderes da oposição ao regime. Mas no Salão Verde da Câmara dos Deputados, alguém me puxou pelo braço: – esse você não esperava conhecer, mas vai gostar! Então abordou um senhor que saia do Plenário: – Deputado, o Gilberto é seu leitor, recita seus poemas de cor.

Assim conheci um dos poetas mais lido do Brasil. E agora me ocorre que talvez ali, naquele momento, eu também tenha conhecido o primeiro acreano na minha vida. Surpreso, ouvi sua apresentação: – Muito prazer, JG de Araújo Jorge.

Jorge Amado, um dos escritores mais querido, lido e amado pelos brasileiros, não raro era questionado por ser lido por milhares, não apenas por meia dúzia, maldição que castiga grandes escritores. Muitos críticos opõem popularidade e qualidade. Um preconceito besta.

JG de Araújo Jorge foi na poesia como Jorge Amado nos romances. O povo leia o que ele escrevia, recitava seus poemas, sonhava com suas musas e se encorajava com suas ideias.
Começou publicando poemas nos jornais do Rio de Janeiro, no começo dos anos 1930. Incomodou o Estado Novo de Getúlio Vargas e acabou na cadeia.

Sua poesia romântica encantou gerações. A esperança viva nos seus versos corresponde a uma atuação política coerente. Eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro em 1970, 1974 e 1978 – estava lá na Câmara Federal em 1980, quando a musa do improvável me deu o privilégio de conhecer o Poeta do Povo.

Falecido no Rio de Janeiro, em 1987, sua poesia tem força para sobreviver ao esquecimento da critica e a negligência do mercado editorial. Impressiona sua presença na internet. É dos mais procurados nos sebos e site de livros usados.

JG de Araújo nasceu em 20 de maio de 1914. Agora é o seu centenário e a Academia Acreana de Letras quer o resgate da sua importância. O presidente Clodomir Monteiro iniciou esforços para tornar 2014 o Ano JG de Araújo Jorge.

A motivação da Academia é inconteste: o poeta que encantou o Brasil era um acreano do pé rachado. Um menino nascido José Guilherme, lá em Tarauacá.


> Artigo publicado originalmente em Jornal A Gazeta do Acre (21.05.2014)

segunda-feira, 26 de maio de 2014

TARAUACÁ: ATO SOLENE DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS POR OCASIÃO DO CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO POETA J.G. DE ARAÚJO JORGE

TEATRO JOSÉ POTYGUARA RESPIROU INTELECTUALIDADE NA ÚLTIMA SEXTA-FEIRA
Reginaldo Palazzo
Sexta-feira passada (23) foi comemorado o centenário do escritor J. G. de Araújo Jorge no Teatro Municipal José Potyguara, com a presença dos ilustres imortais Clodomir Monteiro, Presidente da Academia Acreana de Letras, Robélia Fernandes Souza, Margarete Edul Prado S. Lopes, Moisés Diniz, Claudemir Mesquita e Álvaro Sobralino de A. Neto, todos com alguma ligação com Tarauacá.

Sr. Clodomir Monteiro Presidente da AAL- Academia Acreana
de Letras
Como bem disse o empresário João Maia, com esse Ato Solene resgatou-se uma parte da dívida que o município tem com uma de suas figuras mais ilustres, dentre outras que passa pelo mesmo esquecimento irresponsável. Isaac Melo uma pessoa engajada em resgatar esses nomes, apesar de temporariamente morando fora, também foi uma pessoa muito citada pelos imortais na solenidade. Isaac é um parceiro colaborador da Academia e quiçá futuramente ocupará uma de suas cadeiras. Um belo exemplo de seu esforço é um post em seu blog que fala justamente isso, do POETA ESQUECIDO.

Empresário João Maia - História Viva de
Tarauacá
O Teatro José Potyguara ganhou vida e parecia agradecer o retorno aos bons tempos mesmo que por apenas uma noite já que antigamente era usado para a finalidade a qual foi construído, ou seja, peças teatrais, e outras atividades afins e não ser usado somente para reuniões políticas, estacionamento de bicicletas ou pior, por uma autoridade que não tem a mínima educação e a cultura do cuidado colocando o pé na poltrona da frente.

Assim como na sua inauguração, a chuva chegou anunciando a presença espiritual do imortal poeta J. G. para lavar a alma dos que anseiam por um nível melhor na cultura literária tarauacaense. Todos esses fatos juntos só nos fizeram ratificar a importância de tal evento.





Que os jovens hoje em dia possam perpetuar seus antepassados conhecendo-os a partir de agora para que sejam comemorados no futuro os cento e cinquenta e duzentos anos de J. G e das outras pessoas que honraram o nome de Tarauacá. 

Alguém já disse que conhece-se uma pessoa não pelos livros que ela leu, mas sim pelos livros que ela releu. A IMORTALIDADE CONTINUA.

sábado, 24 de maio de 2014

EM BUSCA DA POÉTICA DE J. G. DE ARAÚJO JORGE

Rogel Samuel


Faço aqui uma breve tentativa de ensaio crítico sobre este grande poeta – e como “ensaio”, algo provisório, limitado a alguns poemas de “Harpa submersa” (1952), para mim reveladores, indicadores daquela arte do poeta acreano, no centenário de seu nascimento.

Até hoje, ele ainda é o poeta mais lido do Brasil, porque popular, fácil, melódico, oral. De certo modo, o maior poeta para o povo brasileiro. Famosíssimo mesmo hoje, tantos anos depois de sua morte (1987), publicou 36 livros, um romance, 2 LPs, várias músicas, manteve programa de rádio, é nome de rua no Rio de Janeiro e em várias cidades brasileiras. Suas músicas foram gravadas por Orlando Silva, Nana Caymmi, Carlos Galhardo, Silvio Caldas, Agnaldo Timóteo, etc.

Foi professor do Colégio Pedro II, no tempo em que lá só chegavam grandes mestres. 

Enfim, uma vida plena e gloriosa.

Morreu aos 73 anos.

A obra literária, sua poética, se confunde com a sua ideologia política, que ele escreveu para povo, para o leitor semialfabetizado, rural, proletário, operário, para as belas normalistas suburbanas, que com elas queria comunicar-se, para as massas, deu voz às massas, como poeta.

Creio que foi o único parlamentar brasileiro moderno que conseguiu eleger-se como poeta, com a fama de Poeta, com a popularidade de seus livros, que eram publicados e vendidos aos milhares, mesmo no interior brasileiro, em papel jornal pela Editora Vecchi. “Amo!” vendeu 80 mil. Ele foi o único poeta brasileiro que vendeu mais de um milhão de livros.

JG por volta dos 18/19 anos.
Foto cedida por Rogel Samuel,
retirada de livro do poeta.
Nasceu em 20 de maio de 1914, em Tarauacá (que na época devia ser uma pequena vila na beira do rio), no Acre.

Curso primário no Acre, secundário nos Colégios Anglo-Americano e Pedro II do Rio.

Em 1931, ainda estudante, publicou um poema no “Correio da Manhã”, depois transcrito no popular “Almanaque Bertand”, em 1932.

Em 1932, no Externato Pedro II, foi escolhido “Príncipe dos Poetas”, saudado por Coelho Neto.

Estudou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil.

Foi orador oficial do CACO, da União Democrática Estudantil, precursora da UNE, da Associação Universitária. 

Foi locutor e redator da Rádio Nacional, Tupi e Eldorado.

Em Coimbra, recebeu o título de “estudante honorário” e na Alemanha fez Curso de Extensão Cultural na Universidade de Berlim.

Elegeu-se Deputado Federal em 1970, pela Guanabara, reelegendo-se para o terceiro mandato em 1978.

Ocupou a vice-liderança do MDB e a presidência da Comissão de Comunicação na Câmara dos Deputados.

Só não foi reeleito pela 4ª vez devido na uma greve dos Correios, que (dizem) o deixou endividado e deprimido, morrendo anos depois, em 1987, creio que em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro.

Ele adorava Friburgo.

Politicamente, era homem de esquerda, desde estudante, quando combateu o “Estado Novo”. Preso e perseguido várias vezes. Deixou de ser orador de sua turma por estar detido na Vila Militar, em 1937.   

Ficou famoso como Poeta do Povo e da Mocidade, pela mensagem socialista da sua obra lírica.

Um dia, uma pessoa querendo me ofender, me disse:

- Sabe quem gostou do seu livro?... A minha empregada!

Isto não seria problema para o grande J. G. de Araújo Jorge, que se dirigia à massa proletária!

Ele mesmo tem um livro que se chama “O poeta na praça” (1981).

Sua poesia é oral, livre, espacial, fácil.

Como não compreender sua poética?

“O diabo é que não sou complicado / sempre sei o que sinto, o que quero, / pelo menos no momento que passa. // Por isso não tenho dificuldade em meu verso, / na verdade, não tenho nenhum trabalho, / ele vem e me diz: aqui estou! / Pois bem: que cante!” (“Harpa Submersa” 1952 )

No seu “Canto Banal”, ele diz:

“Não te quero dizer palavras difíceis e deformantes / nem inventar imagens que embelezam talvez / mas que não reconheces. // Não tocarei música para os teus ouvidos / nem criarei poesia para a tua imaginação, / nem nada esculpirei que já não esteja em ti... // Nesse instante serei banal, / não respeitarei nem mesmo o silêncio, / nada que nos eleve além do plano em que estamos, / não serás estrela, não serás a nuvem, não serás a flor... // Quando chegares, e eu tomar teu corpo em meus braços nervosos, te direi apenas: / - meu amor!” (“Harpa Submersa” 1952).

Ele também sabia dizer coisas como:

“Meu coração, como uma harpa submersa, / jaz no fundo de que ignorado oceano? / Que estranhas correntes arrancam de suas cordas / sons líquidos e redondos que se perdem côncavos / antes de chegar à tona?... // Que peixes cegos tiram notas imprevistas / e se vão tontos na ondulação do canto que despertam / entre espectros calcários e verdes algas trementes? // Que músicas borbulhantes se agitam, nascidas / de que movimentos sem origens, incognoscíveis, / marcando um tempo morto e imensurável? // Meu coração é como uma harpa submersa, / sem dedos, sem cordas, tocando sozinha / uma canção que desvenda os mistérios da vida / para os peixes ouvirem.” (“Harpa Submersa” 1952).

Que significa Harpa Submersa?

Harpa Submersa “/ Este retardatário gosto de pureza, / que me vem à boca do fundo coração, / não sei se é tédio ou o sinal de alvoradas renascentes. / Na areia branca onde a onda tenta apagar/ vestígios de pés e levar todas as conchas, / me deixo à espera de outras vagas carregadas de conchas / ou de passos que tatuem novas marcas / na epiderme do coração. / Pobre coração marinheiro, tão marcado, / de que canto obscuro desenterras imprevistamente / esta harpa cheia de algas e de sons submersos?” (“Harpa Submersa” 1952).

A água é signo feminino. Ele sabe tocar o âmago da mulher, tocar a sua Harpa, o seu ventre submerso.

O canto lhe vem à boca, do fundo do mar do coração. O canto nasce imprevisto do obscuro das algas, do som submerso daquela harpa cheia de algas, de pureza retardatária, do seu itinerário, das marcas na areia do chão de sua vida.

Harpa Submersa significa “ventre submerso”. Ele é o poeta do sentimento, do amor, do itinerário da vida. Ele era um “poeta popular” sim.  E a depender dos leitores, o poeta da Harpa Submersa vai se tornar eterno.

Ele não entrou na Academia Brasileira, mas se sentia “Imortal”:

“Me sinto na academia, me sinto “imortal” / Não sei bem de que academia / nem sei a que morte me refiro / sei que neste momento me sinto como as crianças / e os animais / para quem a morte não é nem mesmo, / uma palavra que se lê.”

Por que deputado?

Por que o grande poeta do povo entrou na política?

Por que foi um grande político de esquerda, tão grande que morreu pobre e endividado?

Porque toda poesia é uma política. Política entendida como a arte de mudar o mundo. Era no mundo grego a “arte da polis”. A consciência comunicativa vigorava na polis grega, entre os homens livres. Mas a poesia só manifesta “arte” na medida em que está a serviço da “polis”. O mundo poético é o mundo da sociedade. A poesia, tal como ele a praticou, resume uma grande força política em prol do desenvolvimento espiritual dos povos.

O poeta dá voz aos povos, como um profeta, as massas se identificam com ele.

Ele não era porta-voz da classe dominante, da elite intelectual dominante, que combateu e por isso ela se vingou, apagando o seu nome das histórias da literatura.
Mas ele não precisava disso.

Sua legitimação vinha do povo.

Ele fez política, fez política com a sua poesia de amor. Quando canta: “meu coração é como uma harpa submersa, / sem dedos, sem cordas, tocando sozinha / uma canção que desvenda os mistérios da vida / para os peixes ouvirem” – tais peixes atuam, nadam no subconsciente revolucionário das massas proletárias.

Poucos como ele sabem que a poesia pode mudar o mundo.

Por isso ele não consta das histórias literárias e a crítica o ignora.

O seu público é outro: JG escreveu para a massa proletária dos “homens tristes” (de que ele sempre fala), para o verdadeiro Brasil operário.

Hoje ele seria aceito?

Não sei. Talvez. Mas não pela mídia, que a elite dominante continua a mesma e mais entrincheirada. O Brasil está cheio de grandes poetas esquecidos da mídia e da crítica.

Mesmo assim JG colecionou prêmios acadêmicos, como o “Prêmio Raul de Leoni”, para o melhor livro de poesia do ano, prêmio oferecido pela Academia Carioca de Letras, com o livro “Eterno motivo”, em 1943.

E até agora ele vende muito: seus livros são os primeiros a vender nos sebos, quando aparecem.

Suas obras estão quase todas na Internet.

Mas em Tarauacá, onde nasceu o poeta, não existe nenhuma livraria...

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ROGEL SAMUEL é doutor em Letras e professor aposentado da Pós-Graduação da UFRJ. Poeta, romancista, cronista, webjornalista. É autor, entre outros, de O Amante dasAmazonas (2005, 2a edição), Novo Manual de Teoria Literária (2013, 6reimpressão);Teatro Amazonas (2012); e Modernas Teorias Literárias: breve introdução (2014). Visite a página pessoal do autorliteraturarogelsamuel.blogspot.com

quinta-feira, 22 de maio de 2014

TARAUACÁ: ATO SOLENE EM HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO POETA J. G. DE ARAÚJO JORGE


No Teatro Municipal José Potyguara, em Tarauacá, às 19:00 h, a Academia Acreana de Letras promove Ato Solene em homenagem ao poeta tarauacaense J. G. de Araújo Jorge, por ocasião de seus 100 anos de nascimento. A solenidade faz parte do quadro de eventos das comemorações dos 75 anos da Academia Acreana de Letras, que, na ocasião, proclamará 2014 como o ano do poeta Araújo Jorge.

sábado, 17 de maio de 2014

JG: OPINÕES QUE O TEMPO CONSAGROU



"O autêntico poeta do povo do Brasil, 'o poeta das massas, como judiciosamente assinalou Carlos Drummond de Andrade, é um jovem  professor no Rio de Janeiro: J. G. de Araujo Jorge. É hoje comum em certos círculos literários da Europa falar-se no poeta chileno Pablo Neruda. De idêntico valor como intérprete do ardente coração latino americano, da pobreza de sua gente, do sentimento e da beleza desse continente, é também J. G. de Araujo Jorge.
Há de chegar o dia, estou certo, em que em todas as antologias de poemas sobre a liberdade, em todas as antologias dos povos livres, serão incluídos os críticos deste profundo e empolgante poeta".

- STEFAN BACIU
Arbeiter-Zeitung, Suíça, 13/8/49


"Araujo Jorge, na forma e no conteúdo é um poeta eminentemente popular e revolucionário. O Canto da terra foi lançado em pleno regime de terror, como um desafio de inteligência livre quando a imprensa se achava amordaçada, e a polícia ameaçadora toda-poderosa rondava as casas dos inimigos da ditadura. Pela força e pelo fulgor, a poesia de Araujo Jorge pode se comparar à de Pablo Neruda, chegando mesmo a superá-la em muitos aspectos."

- EDMUNDO MONIZ,
1943 (Revista Vamos Ler)


"Estrela da Terra eleva J. G. de Araujo Jorge à galeria de Whitman e de Neruda, como Cântico do homem prisioneiro e O Canto da terra o situaram no plano de Castro Alves."

LUCÍLIO DE CASTRO,
O Globo, 21/1/45


"Quem por ventura convive com J. G. de Araujo Jorge não pode deixar de apreciar sua atitude olímpica diante da vida. É ele, na verdade, um apóstolo da Poesia. O verso é para ele uma mensagem para o povo. Detesta o hermetismo. Ama a multidão. Abomina o mistério. Idolatra o entendimento comum de todas as almas".

- JOAQUIM RIBEIRO, 1943
(Prefácio de Meus Sonetos de Amor)


"Como se trouxesse água na mão para a boca sedenta e empoeirada, assim nos chega esta Mensagem de J. G. de Araujo Jorge, o mais popular de nossos poetas, o poeta das massas, de maior projeção no Brasil, conforme (apud, citação de Franklin de Sales, na Folha de Minas de 29 de maio de 1943) já tivera a oportunidade de dizer Carlos Drummond de Andrade".

- MOACYR FELIX
Apresentação do livro Mensagem


"Se uma miopia estética me impedisse de reconhecer poesia nos versos de J. G. de Araujo Jorge, haveria o fator claro e indiscutível que mo apontaria como legítimo poeta: não lhe perdoam o inegável sucesso, e, a todo instante, procuram morder-lhe o renome com os dentes compridos e verdes de inveja."

RENATO HOMEM
Carioca, 12/9/42

> Fonte: www.jgaraujo.com.br

sexta-feira, 16 de maio de 2014

UMA ENTREVISTA DO POETA J.G. DE ARAÚJO JORGE

Entrevista concedida por J.G. de Araújo Jorge a Carlos Camargo, na sucursal e “Manchete”, em Porto Alegre, 1969.

Ele nasceu na vila de Tarauacá, antigo Território do Acre num dia 20 de maio de 1914, há vários anos passados. "Os anos passados, são aulas aprendidas" diz o poeta, que é professor, no Colégio Pedro II. Suas fãs, milhares e milhares, se contradizem: umas acham-no com um "que" atraente; outras afirmam, "beleza não é tudo" E são estas que dizem: "O que ele tem de belo no exterior, esconde (olhos azuis atrás de óculos escuros). Mas todas são unânimes e agradecidas a ele pois, tudo o que de belo tem, no interior, exterioriza através de suas poesias.

Ele é J.G. de Araujo Jorge, o único poeta brasileiro que já vendeu mais de um milhão de livros. E talvez, o menos divulgado de todos. Seus leitores se encarregam disso e também da parte de relações públicas, e elas (as obras de JG pertencem, com um egoísmo impressionante, às fãs) são excelentes, nesse trabalho.

E à elas, dedicamos este questionário, que foi respondido pelo "poeta do amor eterno", e preenchido em nossa sucursal de Porto alegre onde ele veio para o lançamento dos "Jogos Florais" gaúchos:

Quinze respostas de JG
P- Que acha da poesia em si?

R- A poesia é a vida acontecendo no poeta. Afinal o que é o poético senão o poeta? A vida é apenas barro. Tu serás ou não, Deus.

P- O que acha do amor?

R- É a capacidade de "ser". O homem ama amplamente, e de modo multiforme. Sem amor não se "é". Ama-se ao próximo como preconizava Cristo há quase dois mil anos: para se somar o mundo. Ama-se "a próxima ..." para a multiplicação...

P- Onde busca sua inspiração? Escreve sempre?

R- Não busco. Ela me encontra. Está na vida. Passo meses, anos, sem escrever uma linha. Escrevo um livro, em poucos dias. Acontece.

P- Qual seu meio preferido de distração?

R- Olhar. Há muita gente que tem apenas olhos para ver. A capacidade de se ter, "olhos de olhar" a vida, recolhendo dela tudo o que nos pode oferecer é mais empolgante.... e o mais barato de todos os divertimentos.

P- Qual o maior poeta nacional?

R- Os poetas são como instrumentos. Não posso dizer entre um violinista, um pianista, um saxofonista, qual o maior. Cada um é grande no seu instrumento. Citarei poetas de minha predileção: Moacyr de Almeida, Raul de Leoni, Augusto dos anjos, para falar dos que já partiram, mas continuam com a gente, apenas com a sua poesia.

P- Qual a melhor poesia que já escreveu?

R- Difícil. As poesias vão marcando "momentos" de minha vida, como os livros fixam "etapas". Cada uma delas representa, portanto, algo de particular. Mas dá-se o fato curioso: às vezes as poesias de que mais gosto não são as de que gostam mais meus leitores. Eles, ou elas, por exemplo, preferem as minhas poesias líricas: eu prefiro as sociais, e até as políticas.

P- Qual o tipo de mulher que mais lhe agrada?

R- A que me compreende. Só a compreensão liga realmente um homem a uma mulher. O resto é efêmero. Mas como me pergunta a maior qualidade na mulher para me atrair, eu responderia: a sua feminilidade, a sua ternura, a sua capacidade de dar-se.

P- Qual a diferença do romantismo do passado e o da atualidade?

R- Costumo dizer que o romantismo não foi apenas uma escola literária, mas um estudo de espírito que independe de escolas. Os modernos são também românticos, apenas o romantismo do nosso tempo se apresenta com características diversas do romantismo do Século XIX, o chamado "mal do século". O romantismo do homem de nossos dias é um romantismo sensorial, que tem raízes profundas na realidade.

P- A conquista do espaço fez decair o valor dos termos poéticos referentes à Lua, estrelas, etc?

R- Ainda não. Quem sabe lá daqui a alguns anos? Escrevi certa vez que a minha poesia "era como aquela face da Lua que ninguém vê, voltada sempre para o infinito." E hoje, russos e americanos já conseguiram fotografar a outra face da Lua... Evidentemente terei de mudar a minha poesia para outro planeta, ou satélite, mais inacessível...

P- Existe amor platônico?

R- Deve haver: o dos idealistas, o dos frustrados ou doentes. Mas o amor é como a poesia, ou como a flor, - por mais belo que seja, ou por isso mesmo, precisa da seiva que vem do chão, do trabalho das raízes.

P- Acredita no amor à primeira vista?

R- Não. Acredito em simpatia. O amor exige tempo para definir-se, plasmar-se. O amor não nasce amor, como da semente não nasce a flor.

P- Com que idade escreveu suas primeiras poesias?

R- Com 12 anos mais ou menos. Meu primeiro livro (Meu Céu Interior,1934) é uma coletânea de poemas escritos entre 14 e 17 anos. Escrevi minha primeira poesia na mesma época em que era o capitão do "time" campeão de futebol do Colégio Pedro II, onde estudei.

P- O que mais lhe agrada na vida?

R- A vida. Nada há de mais extraordinário. Veja o que disse, neste final de soneto:

"Podes tudo pensar, tudo criares
em histórias e cantos singulares,
o que o sonho não pode, a alma não deve,

e ainda assim hás de ver que não és louco,
que tudo que pensaste é nada e é pouco,
ante o que a própria vida ensina e escreve!"

P- Que escrito dedicaria à Valentina a astronauta russa, primeira mulher a devassar os espaços?

R- "Tu que não crês em Deus
mas que O olhaste de perto, em teus olhos
traze para os homens a sua muda mensagem
ainda incompreendida."


Nota: esta entrevista encontra-se publicada no site oficial de J.G. de Araújo Jorge, de onde retiramos.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

O CENTENÁRIO DE J.G. DE ARAÚJO JORGE

Dia 20 de maio de 1914, na então Vila Seabra, às 23:30 h, nascia José Guilherme de Araújo Jorge, o filho primogênito do então juiz municipal Salvador Augusto de Araújo Jorge e Zilda Tinoco, aquele natural de Alagoas, esta do Rio de Janeiro. Em comemoração ao centenário de nascimento do poeta, a Academia Acreana de Letras prepara uma série de atividades que envolverão a cidade em que JG nasceu, Tarauacá, e a cidade onde fez os primeiros estudos, a capital, Rio Branco.

Na Academia Acreana de Letras JG é fundador da Cadeira Nº 24, onde ingressou em Assembleia realizada no Rio de Janeiro, e registrada oficialmente em Ata da Assembleia de reorganização do Sodalício realizada em Rio Branco no dia 26 de dezembro de 1943, tendo Olinda Batista Assmar como sucessora atual, e como patrono, o poeta baiano, autor da letra do hino acreano, Francisco Mangabeira.

As homenagens a JG envolverão declamações de poema nos mais variados meios de comunicação, divulgação da obra do poeta ao público acreano, visita às escolas, entre outras atividades, que estão sendo definidas por ambas as comissões (Tarauacá e Rio Branco) organizadoras do evento.

PRESIDENTE DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS PREPARA O CENTENÁRIO DE J. G. DE ARAÚJO EM TARAUACÁ

Reginaldo Palazzo
Da esquerda para a direita - Clodomir Monteiro, Palazzo e Claudemir Mesquita
O Presidente da Academia Acreana de Letras, o Sr. Clodomir Monteiro da Silva, juntamente com o Tesoureiro, o Sr. Claudemir Mesquita, estiveram em Tarauacá na última sexta-feira para tratar do centenário em homenagem a José Guilherme de Araújo Jorge, ou J. G. de Araújo como era mais conhecido uma das maiores personalidades tarauacaense reconhecidamente a nível nacional.

Um tanto quanto desconhecido em sua terra natal, era de uma cultura e pluralidade tanto na arte da escrita quanto na arte da política.

Na ocasião veio convidar a Professora Núbia Wanderley, poetisa e outros escritores da terra de J. G. de Araújo como, por exemplo, o Professor Freitas para a solenidade do centenário.

Quem foi J. G. de Araújo?

J. G. de Araújo Jorge
J. G. de Araújo nasceu em 20 de maio de 1914, na então Vila Tarauacá. Após passagem na infância por Rio Branco ainda no Acre, foi fundador e presidente da Academia de Letras do Internato Pedro II, no velho casarão de São Cristovão no Rio de Janeiro, isso na época em que colégio público tinha seu valor. Foi também locutor e redator de programas de rádio, atuando inclusive na Rádio Nacional, o que equivale hoje em dia a trabalhar na Rede Globo. Em 1965, era professor de História e Literatura, do Colégio Pedro II.
Politicamente chegou a ser Deputado pelo extinto Estado da Guanabara.

Foi conhecido como o Poeta do Povo e da Mocidade, pela sua mensagem social e política e por sua obra lírica e impregnada de romantismo moderno.

Foi um dos poetas mais lidos, e talvez por isto mesmo, o mais combatido do Brasil. J. G. de Araújo faleceu em 27 de Janeiro de 1987.

Mais informações sobre J. G. de Araújo clique aqui.