terça-feira, 5 de maio de 2009

Entrevista com Florentina Esteves, membro da Academia Acreana de Letras, Cadeira N° 4, Posição 3.

Entrevista: Vássia Vanessa da Silveira e Marcos Vinicius NevesFotos: José Diaz.
Até os dez anos de idade, a pequena Florentina se entreteve com o entra e sai dos hóspedes no hotel de seus pais, o Madrid. Antes dos 20, ela desfez um noivado quase à beira do altar e resolveu ir para o Rio de Janeiro se dedicar aos estudos. Formou-se em Filosofia e foi professora de Francês. Hoje, aos 69 anos, é a escritora Florentina Esteves. Autora de livros como "O empate" , e "Enredos da memória", ela nos recebeu em sua casa para uma conversa sobre a antiga Rio Branco e a importância de algumas lembranças na construção de sua prosa.
Algumas verdades se tornam dominantes demais e não deixam aparecer outras partes, que é a história vivida pelas pessoas. É o que acontece com a história da imigração estrangeira aqui no Acre, por exemplo. Todos os livros, autores e historiadores dizem "os cearenses, os nordestinos...".
E houve imigração estrangeira.
E a senhora, mais do que ninguém é uma legítima representante dessa outra parte da migração, da construção, da constituição da sociedade que não foi contemplada pela história oficial. A senhora poderia falar alguma coisa sobre a chegada desses imigrantes?
Olha, eu posso te falar daquilo que na época se chamava "os turcos da rua da frente". Esta rua que hoje se chama Eduardo Assmar, que chamava 17 de Novembro, que chamava Abunã, e que todo mundo falava "rua da frente", de uma ponta a outra, desde um pouquinho antes do Cine Recreio, até aqui a descida da catraia do rio, era toda de imigrantes árabes, sírios, libaneses, turcos. Gente lá do Oriente. Havia apenas com exceção um espanhol chamado Manoel do Madrid, porque ele foi dono do Madrid antes do meu pai. E uma francesa, lá na Rua Cunha Matos, onde hoje é o Atlético.
Isso já na década de 50?
Não, isso era em 40, por aí.
Agora esses turcos tinham diferenças entre eles. Como a senhora falou, eram sírios, libaneses... Havia grupos dentro desses grupos?
Eu não sei te precisar quem era sírio, quem era libanês, quem era turco. Eu era muito criança para me ligar nesses detalhes. Eles todos eram chamados de turcos.
Que era uma forma de preconceito.
Identificação. Talvez um pouco de preconceito, eu não sei.
E quanto aos espanhóis, será que havia alguma forma de discriminação?
Não, não. Havia de espanhol o meu pai, Avelino Esteves. E quando ele morreu, minha mãe gostava tanto da Espanha, que casou com o segundo espanhol que existia aqui no Acre, que era o José Rodrigues.
A sua mãe é acreana mesmo?
A minha mãe é paulista, de Santos. E nasceu em Santos por acaso. Porque meus avós viajavam demais. Andaram na Europa, no Oriente, nos Estados Unidos, em toda parte.
A dona Teresa e seu Zé Ticarelli?
Não, esses eram bisavós. Meus avós eram Maria e José Ferrante. Vamos esquecer o José Ferrante por enquanto, que ele foi o segundo esposo da minha avó. Minha avó casou com um senhor chamado Vicente Jordan, lá na Itália. Gostava de corrida de cavalo, gostava de ter dinheiro no bolso, de aventuras, gostava de viajar demais. Minha avó conhecia todas as obras, todos os teatros da Europa. Porque a mania dele era ir à ópera e ao teatro lá da Europa. Lá pelas tantas, ele resolveu ir para Nova Iorque, EUA. Montou um comércio qualquer, que eu não sei exatamente o que era, e lá nasceram dois ou três filhos, dos quais um deles o Domingos Jordão, que morreu recentemente. Um belo dia meu avô está caminhando por uma rua qualquer de Nova Iorque, vem um sujeito por trás e dá dois tiros nele. Era a Máfia que tinha uma diferença com um primo dele, que se vestia igual, tinha altura igual, aparência igual, e ele pegou o tiro. Foi morto por engano. Minha avó, quatro filhos pequenos, queria denunciar o rapaz que o matou. Aí a Máfia foi a ela e disse assim: ?Se você fizer isso, fim. Acaba o resto da família?. Ela então foi no cais do porto, reservou uma passagem, arrumou os panos dela e pegou um carro. Embarcou para São Paulo mas, antes, passou na delegacia e fez a denúncia. Depois ela achou que São Paulo era perto demais para a Máfia alcançar. Então veio para o Acre onde moravam a mãe dela e o padrasto, Teresa e José Ticarelli. Nessa época meus bisavós tinham um hotel aqui, onde hoje é o Comercial Silva. É uma história rocambolesca...
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